29 de novembro de 2010

#SongDuJour 2

Robyn - Call Your Girlfriend by lucaswoodstock

o pop é repleto de corações partidos; se você parar e analisar, não deixará de notar a quantidade de divas que tiveram seus sentimentos destruídos por algum FDP, deixando uma série de traumas para lidar em letras capazes de fazer um diabético tremer. felizmente, uma parte delas segue a filosofia de vida melhor descrita por michael jackson em seu clássico "off the wall": "so tonight gotta leave that nine to five upon the shelf/and just enjoy yourself/groove, let the madness in the music get to you/life ain't so bad at all/if you live it off the wall" - reforçando um dos melhores campos da música pop: "tears on the dancefloor" [lágrimas na pista de dança].

elas destilam suas frustrações e até superações em letras desavergonhadamente românticas, acompanhadas de batidas não apenas contagiosas, mas perfeitamente construídas para ajudar no processo de cura. pergunte a kylie minogue como se faz, por exemplo.

robyn é uma das minhas deusas deste olimpo. ela mostrou seus poderes em canções como "with every heartbeat", "be mine" e em singles mais recentes como a irresistivelmente triste "dancing on my own" e a esperançosa "indestructible".
em seu mais recente álbum, "body talk", há essa faixa "call your girlfriend". depois de álbuns e charts tendo seu coração partido sucessivamente, robyn explora outro lado da história - ela é a outra! mas alguém que sofreu tanto por amor [e tem tantos produtos maravilhosos explorando sua queda] deve ter alguns bons insights sobre como sobreviver: ela vira pro cara, diz que está na hora de ligar pra namorada e ter a tão temida conversa.

por ter estado tanto nessa posição, seus conselhos são doces, porém realistas - "then you tell her that the only way her heart will mend is when she learns to love again/ and it won't make sense right now but you're still her friend" - afinal, ela bem sabe que de coração partido ninguém morre.

além disso, há a música que mescla uma programação rave com uma fantástica atmosfera synth-pop oitentista. infecciosa, romântica e dramática – como toda boa faixa “tears on the dancefloor” deve ser.

4 de novembro de 2010

#VideoDuJour 5



A verdade é que existem células românticas percorrendo minhas veias, por mais que eu não goste de admitir. Todavia, como boa parte do que vem de mim, elas se manifestam meio que controversamente. Um exemplo é minha preferência natural pelo nicho Pop chamado "Tears On The Dancefloor" [TOTD] - em palavras tupiniquins "lágrimas na pista de dança".

Mesmo tendo Kylie Minogue como a Ministra principal desse meu culto, há outras divas maravilhosas com canções rasgadamente românticas preenchidas por batidas hipnóticas e envolventes; por exemplo, Sophie Ellis-Bextor e, agora minha full-adiction, a sueca Robyn.

Já conhecia sua capacidade de produzir fantásticas TOTD desde "With Every Heartbeat", mas as duas canções postadas acima são a prova do quão magistral ela é na composição e produção deste estilo.

"Dancing On My Own" seria uma canção dor-de-cotovelo básica se não fosse a auto-depreciação de Robyn - mesmo sabendo que o ex tá com outra garota, ela, alegadamente estúpida, precisa ver com os próprios olhos. Como? Se posta num canto da pista e inveja os dois se beijando... mas no fim das contas ela continua se jogando, dançando sozinha. Talvez soe como um exagero meu, mas isso pra mim é como uma filosofia: não importa o quão destruído você esteja, continue dançando, mesmo que em modo solo. No clipe, é exatamente isso que vemos: uma Robyn solitária, ora cantando diante de uma haste sem microfone [oi, ele não sabe que ela está ali], ora se acabando em meio a uma multidão que apenas atesta sua solitude.

Já "Hang With Me" tem outra perspectiva: como proceder diante de alguém que já foi mais que amigo, mas agora só pode ser isso? Particularmente, não faço idéia, tentei fazê-lo mas sou adepto da manutenção da distância. A própria Robyn me justifica quando no refrão diz: "but don't fall wrecklessly headlessly in love with me, cos it's gonna be all heartbreak blissfully painfully insanity."

Robyn apresenta uma esperança: "if we agree... you can hang with me." Lucas, por experiência, é menos otimista e continuo no modus operandi anestésico de "Tears On The Dancefloor".

16 de outubro de 2010

#SongDuJour 1



Britney Spears é pura perfeição pop! Há poucas divas pop que ainda dividem tanto as opiniões como ela; nessa vida há mais de dez anos, a persona de Spears e seus escândalos sobrepuseram-se à sua música, muitas vezes injustamente. Poucos dão atenção ao fato de que ela... é detentora de um apanhado dos melhores singles da última década, mesmo que todos se acabem com eles na buatchy.

Cínicos dizem que ela deve isso a seus produtores, mas a verdade é que, apesar de vocalmente limitada, Britney tem a qualidade essencial para ser uma cantora Pop: performance. Tente imaginar "Baby One More Time" sob os gritos de Christina Aguilera, ou Beyoncé gozando "I'm A Slave 4 U", sem a ingenuidade e senso de humor safado de Spears. Com o produtor certo ela é capaz de brilhar e imprimir em suas canções uma assinatura única.

"Unusual You" é uma música do "Circus" que não foi single. Porém, ela é uma das melhores do catálogo de Spears. Esta balada uptempo é um certificado da qualidade estrelar de Britney no estúdio. Seu desempenho exala uma doçura quase melancólica, enquanto ela descreve a surpresa em encontrar um amante que não a põe pra baixo.

Interessante também é a produção de Bloodshy & Avant [os responsáveis por seu topo: "Toxic"], semelhante ao trabalho mais melódico e orgânico da dupla no coletivo Miike Snow. O arranjo em momento algum duvida de si mesmo, mantendo o ânimo alto com uma batida eletrônica bem pontuada, mas sem medo de nos fazer desacelerar e apenas flutuar. O melhor disso é que Britney se mostra aqui em um dos momentos mais auto-confiantes de sua carreira.

#VideoDuJour 4



okay katy perry, you win! estou oficialmente viciado em "teenage dream" - a canção. ainda continuo achando o álbum uma porcaria pop geral e esse vídeo é um clichê audiovisual tão grande que você literalmente se concentra no abdo-fenomenal de Josh Kloss [o cara que ela come no clipe].

o problema de katy perry é que ela é um tédio bem enorme. quando o assunto é pop, não gosto de cantoras, meu negócio é performers. perry com certeza pode cantar, mas sua voz tem o mesmo gosto de chuchu em todas as músicas.

daí você tem o álbum "teenage dream" cheio de canções absolutamente genéricas, cantadas por essa linda garota com fascinantes olhos de coruja e... só, no emotion, no excitação, no nada... boring. a canção título é a única que soa marcante, a única que nós do hemisfério sul ainda lembraremos em dezembro quando estivermos na praia, porque seu gosto de maresia é delicioso.

mas, obviamente, a canção deve isso aos produtores. e, só pra constar, um dos autores e produtores de "teenage dream" - a canção - é max martin. martin who? google-o e leia a lista de hits-me-baby-one-more-time que ele tem.

7 de outubro de 2010

#VideoDuJour 3



hoje é quinta! já é fim de semana!!! então a palavra de ordem é REBOLAR!!!

"hollaback girl" foi uma das músicas em que mais fui viciado; apenas porque ela não passava pela cabeça ou ouvidos, ela ia "direto-pra-bunda"!

naquela época [4 a 5 anos atrás] eu nem tinha galgado esse termo para descrever uma música, mas obviamente, minha bunda enrustida já entendia sua essência. co-escrita e produzida pelo N.E.R.D. [pharrell aparece no clipe], a faixa tem batida e melodia tão envolventes que raramente você a processa pela mente.

nessa minha revisitação neuroticona deste álbum "love.angel.music.baby" de gwen stefani, relembro do quão bem construída é sua estética. praticamente uma "colcha de retalhos", os diferentes estilos, que variam [em sua maioria] dos anos 1980 a 1990, soam quase como um capítulo do livro sagrado da "colagem pop" que tem sido a primeira década do século XXI. ouçam "danger zone", 11a faixa do álbum, e comparem com ladyhawke: gwen stefani been there and done that, baby!

porém, nada de análise: hoje é quinta! dia de começar a rebolar!

#VideoDuJour 2

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php#noticia

hoje não é vídeo. hoje é política.

fiquei as eleições inteiras sem dar uma palavra sobre isso. política não é algo que se discute inflamadamente de 2 em 2 anos, quando se coloca no avatar do orkut a foto do seu candidato. política é o dia-a-dia quando você acorda de manhã, chega na sala de aula atrasado e tenta convencer o professor a retirar sua falta, apesar de você ter chegado 1 hora após a chamada. política é a dona de casa que vai pra feira e tenta convencer o feirante a vender aquela banana por menos que o indicado.

a maioria das pessoas que conheço raramente sentam para deliberadamente discutir essas questões e outras mais do cotidiano que definem diariamente a política. enquanto isso, formei minha visão e postura político-partidária [essa da época de eleições] baseadas na minha vivência e na observação da coerência entre os discursos e atitudes das pessoas ao meu redor, e o que é comumente designado como realidade.

a semanas do 1o turno sou bombardeado por scraps, feeds de facebook e emails com as mais variadas formas de propaganda partidária. minha irritação vem do fato de que ninguém, ao longo do ano, veio me perguntar o que eu pensava sobre o governo e o que eu esperava do próximo presidente.

o link é para um artigo da psicanalista maria rita kehl publicado no estadão em 2 de outubro de 2010. ele resume, basicamente, o que eu penso sobre a classe média brasileira e porque eu levo muito pouco em consideração a opinião dos meus amigos e "companheiros de classe média" na hora de escolher meu candidato à presidência.que venha 31 de outubro e que até lá ninguém venha me convencer em quem votar.

#VideoDuJour 1



Uma vez, eu e Purki discutíamos como o show de Lady Gaga, a julgar pelas gravações bootleg que há por aí no youtube, aparentemente tem uma péssima iluminação. A luz de um espetáculo qualquer é a vice coisa-mais-importante, por ser justamente ela quem dá força visual ao teor emocional da performance.

Nesta performance de "The One", faixa de seu décimo álbum "X", Kylie Minogue dá exemplo de como uma criativa iluminação eleva a performance a patamares paradisíacos: a simples projeção de uma sombra espiral dá o efeito hipnótico que a própria canção já traz. Some a isso os ângulos e close-ups quase voyeuristas que a câmera faz de Minogue e seu olhar, e das adoráveis dançarinas francesas do "Crazy Horse". É simples, mas um trabalho muito bem produzido por um artista pop.

20 de setembro de 2010

DROPS 59

...meu índio estava aqui pelo acaso. obviamente tive uma queda instantânea por ele: era inteligentíssimo e um espírito livre e fascinante, disposto sempre a desconstruir suas pré-concepções. eu e um amigo iniciamos uma leve competição para quem conseguia atrair a atenção dele primeiro. não tinha motivos para acreditar que ele não fosse hétero. era lindo e calmo; tinha um quê de mistério em sua face, mas pelo simples fato de ser uma novidade, pronta para ser desvendada. enigmático, mas natural. acredito que houve um threesome, contudo sua conexão foi comigo. não houve, quer dizer, não lembro de processos, conversas, apenas me lembro de tê-lo sentado, nu, sobre mim, entre meus braços; com sua pele avermelhada, onde manchas naturais brilhavam no escuro fantasticamente. não haviam sombras, questões, éramos livres! estávamos apaixonados, mas éramos livres. ele não estaria para sempre e eu não vacilava por isso. entregamo-nos por inteiro ao momento. aquela liberdade… eu não tinha desejos de mantê-lo por perto, apenas o queria enquanto estivesse. nos conhecemos intimamente, compreendíamos cada charada, abraçávamos cada curva. sabia que ele era meu modelo de príncipe. um forasteiro exótico que não apenas roubara meu coração, mas o analisara, cuidara, alisara, beijara… e entregara o seu para mim livre e tranquilamente. nosso amor era perfeito, suspenso no tempo, presente. era a personificação dos meus ideais mais oníricos. era antropomorfização…

31 de agosto de 2010

DROPS 58 [ou "sobre árvores e frutos"]

[DROPS são colunas esporádicas que moram no meu orkut e que agora terão um apartamento-extra quando quiserem um momento de solitude: aqui.]

é um tanto amedrontador encarar as coisas agora. estranhamente, é quando me pego sentindo tantos medos, como agora, que lembro da força interna que sempre tive. "você não faz idéia do que tem, até que o perca."

tenho medo da rotação em torno do próprio eixo. não sou o planeta, enorme e antigo e, por isso, gracioso no movimento; meus pólos magnéticos são ainda tão desconhecidos, e aquilo que não sabemos, inevitavelmente nos assusta a princípio.

suas palavras me tocaram. nosso amor persiste e é natural querermos vê-lo crescer, desabrochar. contudo, peço perdão se soar arrogante, não sei se estamos preparados para declará-lo maduro. o amor é algo tão delicado, ele não se sustenta por si só. ao mesmo tempo, é tão magnânimo: ele nunca nega sua fragilidade; quando percebe que suas estruturas se abalam, ele não hesita em pedir ajuda. ao contrário de nós, seres humanos cheios de egos, superegos e ids.

agora, tente compreender o medo advindo de suas palavras. representações paradoxalmente sofisticadas de nossa rudimentar forma de expressão (a verbal), elas às vezes perdem a credibilidade. não digo que não mais acredito nas palavras, porém procuro conhecer e compreender os valores que nelas empregamos.

hoje em dia, este tem sido um dos meus grandes problemas no mundo, com as pessoas, comigo. a coerência entre a expressão verbal, os frondosos e fortes galhos das palavras, e as profundas raízes das atitudes. este ligamento, o tronco, por assim dizer, tem sido minha grande busca neste período da vida. é algo tão forte que, como você sabe, vem afetando toda minha relação com os outros entes da floresta.

no momento, é como se um vendaval nos afetasse. nossos galhos se debatem ao vento, buscando estrutura, equilíbrio. é assustador, pois a idéia de sermos arrancados do solo e atirados para longe sem esperança ainda é real. no momento, nossos galhos se debatem entre si, causando dor, desconfiança, medo.

preciso saber se nossos troncos são fortes. preciso saber se seus galhos podem manter-se em harmonia com suas raízes e se elas podem, cada vez mais, se aprofundar no solo.

nós podemos ser dois carvalhos seculares; podemos ter impressas em nossos corpos as marcas do tempo. nós podemos ser interligados e tangenciais nessa floresta; mas, nesse temporal, preciso sentir que a sua árvore pode ser forte, pelas próprias raízes. só assim posso confiar em nossos frutos.

é o que desejo, mas você tem que me ajudar a concretizá-lo, mostrando que tem tronco e raízes fortes para sustentar seus galhos com graciosidade, mesmo quando o fruto (o amor) vacila.

por enquanto, c’est ça.
x.o.x.o.

16 de agosto de 2010

Her Sugar Is Raw!



Meu modelo principal! Foi ela primeiro quem me fez descobrir o poder de ser verdadeiro comigo próprio, de viver da forma que desejo e fazer o que tenho vontade.

Com essa música eu aprendi que nada na vida é para sempre... e que isso não é exatamente um problema.

Feliz aniversário Madonna, ou melhor, Deus!

15 de agosto de 2010

"The Show Is Over: Say Goodbye."

Sempre me surpreendo com isso; não que seja uma novidade, mas é sempre uma cena forte assistir: quando todas as cortinas caem e o ator se revela apenas ator, juntamente com seu ego culpando o roteiro, a direção e tudo mais. Juro que não há juízo de valor, apesar de o palco ser tão próximo que assusta... surpreende. No fundo, acho que fico maravilhado quando acontece. Maravilhado no sentido Lewis Carroll.

É tão complexo ser e estar e enxergar as pessoas serem... e estarem. É tão absurdo vê-las transferir a culpa para algum demônio, alguma falha técnica. É tão assustador se colocar no lugar delas.

Às vezes recai no massante cliché da simplicidade... realmente tudo é mais simples do que imaginamos. É longe de fácil, porém! Como parafraseia Acid Queen "nobody said it was easy." E quer saber, a culpa é nossa, porque ninguém realmente disse que era. Por alguma ilusão abobalhada, que erroneamente nomeamos esperança, achamos que daremos conta, tiraremos de letra. Contudo, ninguém disse que seria fácil... mas é simples! rs

Um dos melhores ensinamentos cabalísticos que aprendi é o de observar as pessoas e seus ditos problemas quando achamos que temos muito a carregar. Por que costumamos solucionar o problema dos outros com tanta facilidade? Porque obviamente não estamos vivendo-o. Isso é muito bom, mas é tão estúpido quando não conseguimos fazer a simples matemática de aplicar na nossa conta. Se funciona com fulano, por que essa solução não funcionaria comigo?

Muitas vezes funciona sim! E por que não aplicamos em nós? Porque é muito melhor e mais narcisicamente edificante acharmos que nosso problema é insolúvel. Isso nos leva ao Oscar! Então, hoje, quando eu vi uma verdade, eu me toquei o quão leves são meus problemas. Tenho consciência de muita coisa que passa comigo; o que não sei, investigo. Tantas pessoas que amo e admiro têm dificuldades extremas em lidar com isso, apelando para a negação, culpando o roteirista.

Nesse meu estado espectante, quanto mais vejo as pessoas, mais tenho vontade do silêncio.

6 de agosto de 2010

Ideologia!... Nemli

Isso não é um texto diretamente argumentativo, nem mesmo apenas um desabafo.


Essa semana no Portal FFW saiu um post rasga-seda do Andre Rodrigues sobre um editorial da Vogue Italia, fotografado pelo genial Meisel, que usa como temática o catastrófico vazamento de óleo no Golfo do México, provocado pela BP. Dentre outras coisas, Andre louva a iniciativa de Franca Sozzani, editora da revista, em publicar tal ensaio, que transcende a mostra de roupa e "prioriza o conteúdo (e não a forma)".

Mas eis que, de repente, no dia 6 de agosto de 2010, Lucas viu um editorial de moda esteticamente fantástico e não sentiu nada. Mentira! As fotos são sim impactantes e lindas, mas para mim foram apenas isso. Talvez seja meu humor de ressaca, mas o tal statement político, cultural e humano que Rodrigues insinua estar contido no editorial, através de adjetivos super descolados para descrever o trabalho de Sozzani, Meisel e a modelo Kirsten McNeamy, se perdeu justamente na profusão adjetiva do texto e, principalmente, nas fotos per se.

A verdade é que dentro do meu humor de sexta de manhã, algo ceticista bateu ao ver esse ensaio que, ao contrário do que sugere Rodrigues, não me impactou em nada no tocante ao desastre ecológico e suas implicações humanas e naturais. O oportunismo de falar e opinar sobre tudo, muitas vezes numa óptica politicamente correta, às vezes me irrita. Me irrita porque essa efemeridade da moda engole, muitas vezes de forma ditatorial, discussões bem mais profundas e complicadas e as mastiga jornalisticamente em editoriais que, apesar das maravilhosas intensões, serão ofuscadas pelo lindo e luxuoso acessório da última coleção da marca x, y ou z.

Talvez eu sacasse melhor a pseudo profundidade política do trabalho se, ao invés de Vogue Italia, o photoshoot [exatamente do jeito que ele é] fosse lançado nalguma galeria de arte, ou numa publicação que incitasse uma discussão que não fosse ser completamente esquecida na próxima edição, apenas porque agora ela é so last season. Talvez, se ele fosse parte de uma série de outras publicações de moda falando sobre o tema com novos insights, mas nenhuma outra revista de moda vai falar sobre isso, apenas porque a Vogue Italia já falou! O que faz com que o trabalho e os elogios subjacentes, ao invés de alimentar uma discussão, alimenta apenas o ego da revista.

Talvez eu esteja sendo muito utópico ao exigir um pouco mais consistência dessa industria. Porque afinal, não é por isso que a Moda é tão celebrada e até mesmo louvada hoje em dia, por massificar e tornar pública a arte que estaria trancafiada para poucos elitistas privilegiados numa galeria? Contudo, penso que o trabalho de Meisel e McNeamy, e até mesmo a iniciativa de Sozzani, merecem mais do que serem esquecidos mês que vem com o próximo grande fashion empty statement.

Daí, talvez [mais uma vez], a beleza de tudo isso esteja mesmo nessa efemeridade de discussões, tão rápida quanto o mundo moderno. Ainda amo a Vogue Italia, Meisel, Andre Rodrigues mas isso não me impede de exercer meu senso crítico, mesmo que nele resida o eterno dilema da estética versus substância que há na cabeça de todo admirador consciente da moda.


Nota-mental: preciso muito ler profundamente Gilles Lipotvesky!

28 de julho de 2010

A vida imita ou é a arte no Brasil?

Na atualidade, cenas que chocam e constrangem pelo simples fato de sermos humanos não faltam: homicídios, corrupções, traições, dentre outras usurpações do nosso direito (direito?) de convivência com o outro. Mas, o que realmente me choca é a (des) proporção que isto toma no Brasil.
No Brasil vemos, não apenas nas manchetes, mas em histórias familiares, de amigos próximos, vizinhos, colegas de trabalho... histórias que contam em português a tragédia humana.
Muito embora o brasileiro orgulhe-se em vender, tipo exportação seu bom humor, orgulha-se também em vender, tipo exportação, nossa hospitalidade que acolhe o diferente, em especial o estrangeiro. É o tal do "fica à vontade, pode pegar na geladeira", quando uma visita, com a qual se busca ser hospitaleiro vai à sua casa. Eu, inclusive, por não ser assim, "acolhedora", costumo ser muito criticada...
Desse modo, mais que constrangedor, é incompreensível e brega a fúria brasileira ante às declarações do ator Sylvester Stallone sobre o Brasil e algumas perguntas ficam:
1. alguém constrangia-se e/ou enfurecia-se devido, não apenas em seus filmes, mas, em uma série de outros que são rodados aqui (oi? Michael Jackson?), usarem as favelas como cenário, lugar que convivemos tranquilamente em nosso constante ir e vir em nossas cidades, e que, longe de ser ponto turístico, como vende-se aqui os pacotes para estrangeiros, é a marca da exclusão capitalista e histórica, onde espremem-se milhares de negros e nordestinos, sendo constantemente taxados de "alta periculosidade" socialmente consentida e massacrada pela polícia?
2. alguém constrangia-se e/ou enfurecia-se por esta polícia cotidianamente corrupta, devido a um Estado historicamente falido, de profissionais, portanto, mal preparados e que, diante do enfrentamento cotidiano da morte, oriundos das mesmas camadas sociais da pobreza, buscam um emprego e ascensão social na base do "salve-se quem puder", munidos de fardas, armas e legitimidade social de um povo acuado, fazendo com que os riscos das bombas hollywoodinas serem armas de água, ante as inúmeras balas perdidas diárias e os "acertos de conta" para os crimes sem solução (comumente pobres)?
3. alguém constrangia-se e/ou enfurecia-se por uma atriz brasileira participar do filme e ser a representante da "típica" mulher brasileira (you know what I mean...)?
4. alguém constrangia-se e/ou enfurecia-se de dizer que veria este filme, produção tosca de histórias muito ruins, mas que lotam bilheterias por serem estrangeiras, reproduzindo parâmetros de violência e dominação, renegando à população um direito básico que é o acesso REAL E GRATUITO à cultura e educação, anulando a identidade de um povo, mantendo-os aculturados?
Logo, eu me constranjo e me enfureço com esta atitude aparentemente nacionalista que só se vê em época de Copa do Mundo, mas, que não se reflete nas urnas. Não porque realmente se incomodem, mas, como mãe magoada, não gostou da verdade que se ouviu - afinal ele só relatou o que viveu aqui - e se reage de forma veemente e sem lógica a algo que qualquer pessoa que viaja pelo litoral, nas férias de verão observa: uma cordialidade sem sentido, pois está longe de ser cordialidade, vê-se um arriar de calças (inclusive literalmente, especialmente no caso de mulheres), uma vassalagem histórica a qual o Brasil AINDA se presta ridiculamente rendendo honras a tudo o que é do exterior, principalmente se este fala: Thank you" em agradecimento.
Para concluir, deixo ainda 2 pontos:
1. este link da jornalista Ana Maria Bahiana que corrobora e amplia algumas de minhas reflexões:
2. e uma pergunta: MERCENÁRIOS???? Quem é mesmo???

25 de julho de 2010

...Got To Be Certain...

Existe algo de aterrorizante em tomar consciência das coisas.

É tudo que consigo escrever agora...

desolé.

23 de julho de 2010

Apocalipse My Ass!!

Às vezes você dorme, depois de dar uma, na ilusão de que vai ter um sono tranquilíssimo e acordar linda com a cutis renovada para todos os milhões de compromissos do dia seguinte.

Pois bem, em algum momento da noite eu não era eu, eu era Serena van der Woodsen, mais especificamente a linda e chiquérrima atriz que a interpreta, Blake Lively, numa mansão à lá Resident Evil: cara e majestosa - na verdade parecia alguma mansão presidencial. Assim que me percebo como tal, me dá um clique na mente e lembro que tenho mil compromissos em pouquíssimas horas. Okay, eram apenas duas coisas, mas que por conta do meu não-planejamento anterior se desdobravam em mil e podiam virar bola de neve: um era ajudar a irmãzinha a fazer a tarefa de casa, aquela menina Rafaela da última novela de Manoel Carlos, e a outra era ir pro meu trabalho, o Cine Pev, ter uma reunião com minha chefona Monalisa Barros e, logo depois, pôr um filme para uma sessão para o Conquista Criança e correr desesperadamente para a sessão de análise - que acontecia no mesmo tempo da sessão de cinema.

Mas okay, eu era Serena van der Woodsen, linda, loira e Upper East Sidder em meus Louboutins! I can pull off anything, certo? MEUCU, quando eu abro a porta da sala onde me encontrava, simplesmente acontecia o maior pandemônio EVER! Sério, era o Fim dos Dias, com direito aos Cavaleiros do Apocalipse e tudo mais! Geral sendo destruída, queimada, fodida, fornicada pelos capetinhas que aproveitaram pra sair do Inferno e fazer festa... todo tipo de desastre acontecia na ante-sala da mansão. E tudo parecia se concentrar lá.

Putz, o mundo tá acabando certo? Então, tenho todas as desculpas pra relaxar e faltar com meus compromissos, certo? MEUCU! Era questão de honra cumprir minhas tarefas, até mesmo porque naquele momento lembrei que não acreditava muito em Deus e já que ele resolveu se fazer presente, achei uma puta falta de sacanagem ele decidir acabar com a humanidade no dia em eu tinha tanto a fazer!

Mas enfim, saí correndo escapando de uns demônios aqui e acolá e fui atrás da irmãzinha que já estava espertamente escondida em outros ambientes do video-game! [Sim, isso mesmo, video-game!] Quando a encontrei, ela estava com nossos pais prontos para fugirem da mansão, pois aparentemente o apocalipse só acontecia por lá, pelo menos por enquanto. Só que tinhamos que fazer a tarefa dela, que como eu pensava que o mundo não podia parar só porque tinha uns Anjos da Morte e alguns seres humanos carbonizados em nossa casa. Ela, como um ser prodígio, já tinha feito o fichamento de toda sua tarefa e só precisava de minha ajuda para digitar e organizar.

Fizemos tudo isso enquanto os outros membros da família fugiam pela janela. Depois ela se foi e só sobrou, quem? Eu, linda Serena presa no apocalipse e tendo ainda que correr pra encontrar Monalisa Barros. Mas, como diz o chefe de uma amiga minha, VEJA BEM: eu realmente preciso encontrá-la, HOJE ao meio-dia...

São 11h17 - ADIOS!!!

18 de julho de 2010

Mulherão, my ass (e meu cérebro também!)!

Se tem 1 coisa que eu, de uma família repleta de típicos machos, escutei nessa vida foi: NOOOOSSAAAA!! Mas, fulana é um MULHERÃOOOOO! Ser mulherão era, devido a minha existência pré-silicone, essencialmente, ter bunda.
Embora não tenha quem diga hoje, mas, eu era um mulherão, e chamava muito a atenção. E eu odiava, porque me parecia que, se a palavra tinha que ser assim, ENORME, era porque meu lugar e importância eram, na verdade, pequenos.
Eu que era nova, mas nunca fui burra, entendi cedo que nomear de MULHERÃO, implicava em reduzir a mulher em um objeto palpável, no caso seu corpo, ou em partes dele, o que na prática significa minimizá-la. Os mulherões tornam-se, na verdade, mulherzinhas, reduzidos a brinquedos fetichistas masculinos, consumidas ao vivo ou em revistas, enquanto elas, iludidas pelo objeto maior do fluxo do desejo em nossa sociedade, odinheiro, estampam orgulhosas as infinitas intervenções cirurgicas na busca incessante pelo falo real e imaginário, fragilizadas e aprisionadas na condição do próprio corpo e de impor o feminino.
Para mim, ser mulherão é inserir-se no simbólico: assumir o feminino como uma condição e não como disputa que reproduz os mesmos padrões de comportamento masculino, é ter em seu corpo a certeza de que, mais que ser bonito, é parte da minha trajetória existencial e escolhas e não condição para elas. Estou no mundo e posso me apropriar dele, mesmo sem alguém ao meu lado.
E hoje, com bunda, peito, cintura e cérebro, me orgulho em dizer: sou um mulherão, mais macho que muito homem e mais feminina que muita histérica.
E ainda dizem que o Freud não tinha razão...

A arte do reencontro

Depois de semanas (meses?) sem postar, volto ao blog e isso me remete a uma questão muito recorrente para mim: o reencontro.
Antes de mais nada porque, só quem está longe de quem se ama e de onde tem referências sabe o impacto de um reencontro. É um afago na sua própria essência, como se o tempo estivesse parado e voltasse a correr. Mas, mesmo antes disso, o reencontro para mim sempre teve algo de mais interessante, essencialmente, porque, ele é uma decisão.
No primeiro encontro, tem-se a magia do acaso, do inesperado, de se surpreender diante da vida, mas, no reencontro é justamente a escolha de abrir uma brecha no tempo, alterar o curso do que seguiria naturalmente, dispor-se a ir em direção àquilo que já se tornou parte de sua história.
Sim, pois é por ter se inscrito em sua vida que não dá mais para seguir casualmente sem aquela situação ou pessoa, e contar novamente com a disposição do acaso, é, no mínimo, irresponsável. Agora, é preciso empenho e implicaçãO.
O reencontro permite o deja-vú, o tornar concreta a fantasia, reescrever a própria história, pois, já não há mais a incerteza, as dificuldades e defeitos já estão postos, o dia já amanheceu, a raiva já passou, os caminhos já mudaram, e o verbo não é mais ser, mas estar. Decide-se estar ali, apesar de.
Não que ela continue, mas, sinto que naquela pausa da respiração, entre o sorriso e o acelerar dos passos na hora do reencontro, é que ocorre a tal felicidade.

15 de julho de 2010

Saia Justa

Adoro papo de mulher! Não de mulher fresca que só fala de homem e sempre com a visão da coitada dominada. Não somente meus ídolos são feminíssimos, como Madonna, Kylie ou Jane Fonda, a maior parte das minhas amizades são com mulheres e todas elas potentes e bombásticas. Conversar com elas é sempre uma graça, pois o universo feminino sempre me fascinou. As mulheres da minha vida, partindo da minha mãe, são todas muito fortes em algum aspecto e como todas elas, com exceção das lésbicas, gostam do mesmo que eu [pintos! rs], nunca falta papo com elas.

É por isso que um dos meus programas favoritos na TV é o Saia Justa, do canal pago GNT. Com 8 anos de existência, teve em sua formação original [e melhor] a jornalista Monica Waldvogel, a atriz/cantora e formada em psicologia Marisa Orth, a cantora Rita Lee e a escritora Fernanda Young; no programa elas tratam de diversos assuntos, geralmente do universo feminino. Hoje, além de Waldvogel, tem as atrizes Betty Lago e Maitê Proença e a filósofa Marcia Tiburi e a mistura de mentes é genial. Gosto muito da Marcia desde quando ela era figurinha do Café Filosófico, da TV Cultura, e o que mais gosto de sua participação no Saia Justa são seus insights mais teorico-filosóficos sobre a sociedade e o feminismo - e agora ando explorando seu blog.

Porém, o mais gostoso do programa do GNT é que essas quatro mulheres não se intimidam com nada, nem com a possibilidade de falarem bobagens. Sempre com línguas afiadas na sinceridade [até entre elas mesmas], são mentes não só brilhantes, como interessantíssimas. Não tem como não se divertir com suas conversas e polêmicas.

Saia Justa passa às quartas, 22h30, no GNT.

Sookie!!

Oh True Blood! Nunca me deixe mais de 8 dias sem te ver!

[Sookie: I wanna look like I can kick some serious ass... which I can!]


13 de julho de 2010

"It's Alive! It's Moving!"


O melhor de O Bebê de Rosemary [Rosemary's Baby, 1968 - EUA] é que você ainda pode pensar o que quiser do filme; tudo cabe! Sim, havia um culto saltânico... não, ela tava looooooca! Tudo pode porque Polanski, gênio que é, nunca nos diz o que devemos pensar.

Rosemary é a segunda parte de uma trilogia informal sobre horrores psicológicos em apartamentos e loucuras urbanas. Quem assisti-lo, note como o principal da ação acontece em apartamentos amplos, mas ainda assim muito fechados e artificialmente iluminados. O principal, os do Woodhouse, começa light e aberto e conforme observamos Rosemary ele vai se tornando tão obscuro quanto sua mente. Mas a maravilha que Polanski faz com sua câmera está nas cenas de locação, numa Nova York cinzenta de inverno, com planos fechados e close-ups quase invasivos nas personagens, causando uma sensação claustrofóbica mesmo quando do lado de fora.

As outras partes da trilogia são Repulsa Ao Sexo [Repulsion, 1965 - Reino Unido], com uma nova e fantástica Catherine Deneuve representando uma jovem sexualmente reprimida, e O Inquilino [Le Locataire, 1976 - FRA], sobre um burocrata tímido que se muda para um apartamento no qual o inquilino anterior cometeu suicídio. O primeiro [tem na Canal 3] não é tão sutil e ambíguo como Rosemary, mas é tão fantástico quanto; enquanto o segundo mencionado é quase uma raridade nas locadoras que conheço, apesar de facilmente encontrado na internet.

11 de julho de 2010

DROPS 57

[DROPS são colunas esporádicas que moram no meu orkut e que agora terão um apartamento-extra pra quando quiserem um momento de solitude: aqui.]

há um ditador em mim. exigindo perfeccionismo do mundo, enquanto a complacência reina internamente. há um ditador em mim. ele chuta e luta por sua visão, grita por atenção, mas ninguém percebe uma mínima cruel intenção. suas plumas se exibem exuberantes e vibram com a noite, quando seus olhos de gato enxergam as possibilidades de açoite. ele está contato com o que é correto, mas foge da cena do crime, esperto como um rato, inocente como um coelho. exige sua vontade com maravilhosos argumentos e se lhe faltam momentos, apenas o silêncio lhe é o bastante para espalhar tormento. o ditador está aqui e agora, escrevendo este texto, em busca de entendimento, ou seria aconchego. exato por sempre e cheio de si, ele se abre num instante, but then closes in, em inglês mesmo, pois é mais fácil assim afastar quem tenta entender e entrar. os botões e cliques de sua mente, em constante funcionamento, estudam as falas, atitudes, conselhos, a fim de alcançar uma completude, visão panorâmica no melhor atacar. se infla e rosna dentro de sua razão; mas de repente tudo perde o diapasão, quando solitário se questiona se venceu ou não. porque o que resta, o que sobra, é uma insegurança insólita; é solidão carismática e sorridente, quase manipuladora... ou talvez isso mesmo. a armadura esconde um medo constante em não ser compreendido ou aceito. ele é duro e direto, mas deseja o objeto que afastara há instantes. porque minha raça ariana é linda e forte, mas teme a morte vinda com a rejeição. dos outros a opinião positiva: me amem, me louvem, me xinguem; mas deixem comigo seu coração. no fundo ele espera respostas doces e sinceras, mesmo que seu olhar de pantera perfure um “não!”. seriam as incongruências de alguém tão forte, mas tão jovem, buscando o lugar mais firme do chão. no fundo ele é igual a todo mundo, mesmo que seu cérebro só demonstre o poder em suas mãos. a mania de grandeza, repentinamente, não é nada, quando deparada com o espelho da solidão. pois é quando o público vai dormir, quando não há mais ninguém para aplaudir que as dúvidas começam a eclodir. o ditador é jovem e acha que pode. o ditador é jovem e tem medo que não possa retificar suas falhas, ou apenas abraçá-las. porque no fundo aquela complacência não existe; assim como dos outros, ele exige de si mesmo da perfeição à aceitação. por enquanto, c’est ça. x.o.x.o.

10 de julho de 2010

Divas Nasais

Depois de escrever a minha review, me pus a ler o que outros críticos disseram sobre Aphrodite e a recepção geral do álbum foi positiva. A minha favorita é de Tim Sendra, do portal Allmusic, na qual ele louva as qualidades de Kylie Minogue como intérprete. Ele diz:

"Obviamente, ela nunca será confundida com uma diva de longas oitavas ou uma potência vocal, mas sua voz de garota-do-lado meio anasalada serve suas necessidades perfeitamente. Ela eleva-se pelas canções com a mistura exata de emoção e moderação, adicionando algum sarcasmo quando necessário (na descomunal faixa-título ["Aphrodite"] ou “Get Outta My Way”) ou uma calma melancolia quando tal humor se instala (“Illusion”). Esta habilidade de adaptar sua performance à canção é uma qualidade rara no mundo pop no começo dos anos 2010."¹

E ele está certíssimo! Diria que no mundo da música em geral, o minimalismo emocional na interpretação das cantoras atingiu ao tédio generalizado. Ótimas cantoras brasileiras, como Céu e Roberta Sá, ainda têm muito a aprender para chegarem ao nível de performance de uma Marisa Monte ou, sejamos exigentes, Maria Bethânia. Sem contar as malas com muito hype, como Maria Gadu, e a leva de lésbicas masculinas à lá Ana "Insuportável" Carolina.

Se formos para o mundo do Pop internacional a coisa fica ainda mais delicada.

[Ke$ha: boca de robô-chuparina]

O problema não são mais as Britney Spears e Ke$has, viciadas em Auto-tune para criarem o efeito que seu desempenho é incapaz de produzir na canção. A Ke$ha chega a ser nojenta, quando nenhum single lançado por ela até hoje contém sua voz sem estar robotizada pelo processador de áudio.

O problemão, ao meu ver, são justamente aquelas com potencial vocal legal mas são um grande tédio de interpretação. Todas essas biscatonas do R&B ou Hip Hop americanos sofrem disso. Nicole Sherzinglogoogonger das Pussycat Dolls, por exemplo, Ciara, e porque não nomes consagrados como Christina Aguilera, Mariah Carey e Whitney Huston. Todas elas botaram em suas cabeças-ocas que passar emoção é berrar que nem uma vaca e prolongar uma nota por quinhetas horas. As beeshas drama-queens aspirantes a travesti adoram! Eu, honestamente, bocejo.

[Whitney Houszzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz]

Nem toda grande cantora Pop, capaz de alcançar e sustentar mega-notas, é um tédio de personalidade. Reparem Björk e Lady Gaga [duh!], como os gritos fazem parte de uma performance que transcende caretas whitneyescas e mãos nervosas aguilero-mariahescas; qualquer ser humano com o mínimo de sensibilidade consegue distinguir que os gritos de Gaga em Bad Romance (por exemplo) não são apenas para nos impressionar com sua chatisse vocal, mas fazem parte da monstruosidade do eu-lírico da canção. Nota: Beyoncé chegou muito bem a esse nível em I Am... Sasha Fierce, no qual ela grita menos e interpreta mais.

[(L)(L)(L)]

Mas o interessante para mim é que minhas cantoras Pop favoritas são justamente as de vozes anasaladas meio limitadas, como Kylie, Madonna e Cyndi Lauper, mas que são gênios na performance, por saberem perfeita e exatamente o que fazer com seus instrumentos de trabalho. Para cada momento em que se enjoa de Girls Just Wanna Have Fun, há a beleza melancólica de uma True Colors, e isso você sente diretamente da interpretação dada por Lauper à canção. E você pode até odiar os gritinhos de Like A Virgin, mas deve-se admitir que mesmo que Madonna tenha absorvido isso diretamente da versão demo [gravada por um homem], aqueles HEYs fazem parte da Cultura Pop da forma que Madge os concebeu.

E para quem não conhece o extenso catálogo de Kylie Minogue recomendo a sensualidade de Slow, a ira contida no álbum Impossible Princess [1997], com músicas amargas como Too Far e Through The Years, e o romantismo-dramático de canções como Chocolate, Put Yourself In My Place e Dangerous Game.

Numa indústria em que nem sempre a estrela é a produtora [compositora] principal do que é comercializado, o diferencial artístico se encontra justamente na capacidade em que ela tem em dirigir seus contratados [compositores, músicos, produtores, fotógrafos etc] para exprimirem sua personalidade no produto final, seja criando ou seguindo tendências. É como Sendra acrescenta sobre Minogue e seu último álbum ao fim de seu texto: "[A habilidade de adaptar sua performance à canção] pode levar as pessoas a subestimarem o talento de Kylie, mas na verdade, Aphrodite é o trabalho de alguém que conhece exatamente quais são suas habilidades e quem contratar para ajudá-la a exibi-las com perfeição."¹
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Referências:
¹ Sendra, Tim. "((( Aphrodite > Review )))". allmusic.com.

Physical Attraction... Chemical Reaction?

Diz-se que os opostos se atraem, mas sempre duvidei dessa máxima em matéria de relacionamentos. Em todos eles, amistosos ou românticos, geralmente buscamos afinidades. Diz-se que não importa as maluquices mentais das pessoas, são as reações químicas que definem a atração, mas e aí, depois de dar uma o que explica a vontade de estar grudado, de ficar junto?

O ser humano é o único animal que fica depois de acasalar. Você não vê nenhum cachorro dormir de conchinha depois que goza e nem mesmo os pinguins imperadores, ditos monogâmicos, pagam de namoradinhos - o casal se encontra apenas para dar uma e criar o filhote, de resto cada qual no seu apartamento.

[Pinguins Imperadores: casamentos super-evoluídos]

Tem gente que diz que a evolução humana está em justamente permitir burlar essas leis naturais; se o normal no reino animal é o sexo procriador, o homem faz sexo pra gozar, porque os tais 5 segundos [masculinos] são viciantes... mas, ainda assim, como explicar a vontade de ficar junto? Mesmo quando não há sexo per se, você se sente feliz e realizado e orgásmico só de estar deitado perto da pessoa! E saudade, quem explica? Cuazedo quando a pessoa não liga... é reação química também?

Se sim, seria ótimo, afinal é algo que não podemos evitar, faz parte da configuração genética da bagaça toda... tem coisas que são como são e acabou. Que descubram logo o gene do romantismo, porque por enquanto é coisa da nossa cabeça; e não que coisa da cabeça seja ruim ou errado... mas é que sabe como é né... a gente tem mania de não querer ser doido, quando no fundo não há escapatória: somos insanos.

...Apenas devaneios de gente apaixonada.

8 de julho de 2010

"Can You Feel Me In Stereo?"

Diz-se que opinião de fã é parcial e não merece muito respaldo. Contudo, em alguns casos, uma boa e bem fundamentada opinião de fã é muito melhor que a de um crítico supostamente imparcial. Por que penso assim? Jose uma vez me disse que o grande cineasta da Nouvelle Vague francesa, François Truffaut, também era crítico de cinema e pensava que um bom crítico era aquele que procurava ressaltar as qualidades, ao invés de apenas execrar todo e qualquer filme. Hoje em dia o que mais se vê por aí é jornalista falando mal por falar, e como o pensamento do mestre francês se enraizou em mim, que sou aspirante a crítico, ele tem sido o que busco em todas as resenhas, desde as que leio por aí e às que me proponho a escrever.

Agora, é fato que eu nunca desgostaria de algo vindo de Kylie Minogue, [lançado oficialmente essa semana, mas vazado na web há pelo menos 15 dias] seu novo álbum, Aphrodite [2010, Parlophone], veio para mim como a brisa do mar na primeira manhã do ano - suave e refrescante, mas intensa se considerada sua origem. Contudo, achei melhor esperar para que algumas coisas se definissem melhor em minha cabeça, além da excitação de fã.

[Aphrodite declara o retorno do sutiã de cone...]

Tendo a deusa grega do amor e do sexo como matrona, "Aphrodite" fala principalmente de amar, sendo essa a linha temática essencial do álbum. Contudo, há algo de excitante em relação às letras e desenvolvimento das faixas: é como se cada canção representasse um aspecto e pensamento dessa personagem. No refrão da primeira faixa, All The Lovers [composta e produzida pelos lindos Kish Mauve - responsáveis por 2 Hearts], as vozes de Kylie e Mima Stilwell se combinam como sereias hipnotizantes, mas há uma serenidade que reforça exatamente o que elas cantam: all the lovers, that have gone before, they don't compare to you. Tais momentos apaixonados e brevemente dramáticos acontecem na maioria da faixas, como Put Your Hands Up (If You Feel Love), Closer e Cupid Boy [aquela música fantástica que tem tudo para se tornar uma jóia esquecida, como Your Love do álbum Fever (2001)].

Porém, todo o sangue, suor e romance não vem carregado por batidas obscuras como na obra-prima de 1997 da cantora, Impossible Princess [Deconstruction]. Aphrodite é um álbum Pop, voltado para o Dance, mas Pop. E mesmo que haja menos ousadia experimental, como Sensitized e Speakerphone [ambas do X], "Aphrodite" é um trabalho delicioso capaz de te levantar da cadeira - se você estiver disposto. A faixa título tem uma "bateria-de-quartel" genial e letra simples, mas definidora do clima do álbum: "I'm fierce and I'm feeling mighty, I'm a golden girl I'm an Aphrodite!" Ela diz que não poderíamos resistí-la e é o que acontece quando temos faixas como Get Outta My Way, Too Much [em parceria com o amigo Jake Shears, do Scissor Sisters, e Calvin Harris], Illusion e Can't Beat That Feeling. É verdade que, como disseram alguns críticos, nenhuma dessas faixas sejam grandes inovações de estilo [nem do gênero, nem de Kylie], mas esses mesmos caras foram os que esculhambaram "X" por sua falta de coesão e experimentalismo. Então... e daí o que eles dizem?

"Aphrodite" é bem diferente de seu antecessor, X [2007, Parlophone], não apenas no som, mas numa coisa muito cobrada em álbuns pop hoje em dia: coesão. Todas as faixas em X tinham grande potencial e eram excitantes por si só, mas a maioria não funcionava muito bem em conjunto. Em Aphrodite, o maravilhoso Stuart Price dá ao álbum o ligamento proveniente de uma excelente produção executiva; as faixas têm produção variada, mas [praticamente] todas passam pela mão e finalização de Price, resultando no som refinado e bem estruturado de "Aphrodite".

Criticamente, penso que o problema inicial deste álbum é que, ao contrário dos esforços anteriores de Minogue, não há a faixa-clímax; não há nenhuma Can't Get You Out Of My Head, Slow ou In My Arms aqui. Porém, a cada audição a coerência e coesão do álbum se destacam, sendo natural que ao invés de uma faixa favorita, você se apaixone por todas as faixas por igual. Mas como fã, apenas desejo que Minogue ponha todas as faixas no setlist da turnê e venha para o Brasil mais uma vez.

[...desde que venha com sapatos fantásticos. SEMPRE!]

2 de julho de 2010

Profissão Rep...Blogger

Jah sabe o quanto adoro as inovações advindas da tecnologia; a cultura de blogs revolucionou as relações de escrita/leitura no mundo inteiro. Hoje em dia não precisamos de uma editora para publicar o que escrevemos, nem de livrarias e bibliotecas para ler coisas realmente interessantes - está tudo aqui, agora e ilusoriamente de graça!

Porém, há algo de conservador quanto a isso tudo em mim. Tenho o maior apreço por blogs de conteúdo e linguagem interessante ao que se prestam, mas ainda assim desejo por uma profundidade que ainda é difícil encontrar na internet. Todo conservadorismo, por um certo ângulo, é preconceituoso e talvez por isso torça o nariz para quando alguém considere a atividade de "blogueiro" como sua prima atividade. Quantos realmente põem isso no campo "profissão" das fichas cadastrais? Quantos realmente sustentam a vida com dinheiro de blogagem?

Contudo, o maior problema da "profissão blogger" é o total despreparo de muitos dos ditos-cujos para simplesmente escrever, sobre o que quer seja. Veja bem, posso estar entrando num campo minado por mim mesmo, mas como se prestar a escrever se você não é capaz de abstrair críticas, algumas vezes, direcionadas exatamente para você? Há blogs que adoro ler, mas meus dentes rangem quando leio alguma resposta do blogueiro em relação a alguma crítica cheia de egocentrismo e auto-comiseração.

Por exemplo: tenho gostado muito do Só Prazamigas, que seguindo o mote do antigo blog de seu criador [o Meu Melhor Amigo Gay], dá dicas de relacionamento e sexo pras meninas na perspectiva do homem gay. Então, dia desses li um post em que uma garota esculhambava o blogueiro por seu discurso misógino e despreparado quanto ao trato da sexualidade. Obviamente, a crítica foi rechassada com escracho, o que na minha opinião seria um ótima oportunidade de auto-análise e, a partir disso, rebater a crítica com mais classe. O autor, Ande Texeira, tem um ótimo senso de humor, escreve bem, e mesmo que a crítica estivesse [até certo ponto] fora do contexto do blog, ele realmente não tinha o respaldo teórico para escrever sobre o que escreve e ser levado a sério.

É uma questão básica de auto-crítica. O problema de blogueiros é que somos os futuros jornalistas; mas, se antes tinhamos que ir pra faculdade [por pior que ela fosse] para aprendermos sobre regras básicas de Produção Textual, Ética, Filosofia e termos o mínimo de contato com as teorias sociais [da comunicação ou não], agora qualquer um de nós pode ter milhares de leitores e de repente virar formador de opinião. O pior é quando veículos de comunicação "sérios" contratam tais escritores, apenas para angariar ibope. Dia desses travei uma discussão twíttera com um que escreveu para o Folha Online uma suposta crítica do clipe de Alejandro, que era nada mais que uma compilação de tweets sobre o clipe que pipocaram na twittosfera. Quando fui ver a credencial da criatura: BLOGUEIRO!

#meucu!

E se antes o problema do mundo era que jornalistas formavam opinião, a tendência agora é que blogueiros formem opinião! E agora, você entende porque meu conservadorismo entra em cena?

28 de junho de 2010

Saint John of Cinema - Parte 2

Bem, há espaço pra tudo né! Sábado, da praça com Marco, à Budega da Roseira com Acid Queen e o apagão, ao Livramento Palace com o pessoal do Circo Vox até às 6h da manhã, saindo às gargalhadas: "ONDE ESTÃO NOSSOS ÓCULOS ESCUROS?!"

Porém domingo bom é domingo sussa, então depois do meu almoço japonês voltei ao modo cinemático.

- Núpcias de Escândalo****
[The Philadelphia Story, 1940 - EUA. De: George Cuckor. Com: Katharine "Deus" Hepburn, Cary Grant e James Stewart]

"A melhor idade para julgar as pessoas é... nunca!"
Junte uma jovem divorciada rica e temperamental + seu charmoso ex-marido + um escritor/repórter sensacionalista frustrado = "Núpcias de Escândalo". Dirigida por um dos mais legendários diretores e estrelada pela mulher considerada a maior atriz do cinema [Katharine Hepburn mantém o recorde de 4 Oscars, ainda viva!], essa comédia de 1940 é um delicioso estudo de caráter sobre as relações pessoais na alta classe, mas que se mantém atual em nossa sociedade fetichista pelo "estilo de vida dos ricos e famosos."
O filme começa mostrando o fim do casamento de Tracy Lord [Hepburn] e C.K. Dexter Haven [Grant]. Dois anos depois, Tracy está prestes a se casar com o emergente George Kittredge [John Howard] e o evento se torna alvo de Sidney Kidd [Henry Daniell], editor-chefe da revista de fofoca "Spy", que envia para conseguir a história Macaulay Connor [Stewart], escritor - feito jornalista de fofocas para ganhar a vida - e sua fotógrafa e "amiga", Liz Imbrie [Ruth Hussey]. Com exceção da pequena Dinah [a fantástica e hilária Virginia Weidler], irmã de Tracy, a família Lord odeia a imprensa, portanto os jornalistas recebem a ajuda de ninguém menos que Dexter. A partir do momento em que todos se encontram na propriedade dos Lord, a confusão se instala e uma série de revelações e surpresas acontecem de forma deliciosamente cômica.
O centro das atenções, Tracy, é inteligente e refinada, a epítome da mulher que veste a armadura de seus padrões a fim de esconder sua frágil inabilidade em compreender o mundo e o amor além de suas fronteiras. A magistral Katharine Hepburn [que não tem parentesco algum com Audrey Hepburn] nos dá uma Tracy terrivelmente adorável, mesmo que sarcástica, nos tornando fascinados por ela, ainda que repelidos. É isso que acontece com Macaulay Connor que, disposto a revelar as podres rachaduras da alta sociedade, se dobra aos humanos encantos de Tracy, apesar de também tomá-la como a deusa que ela impõe.
O roteiro de Donald Orgen Stweart, baseado na peça de Philip Barry, é de um colorido humor ácido, recheado por diálogos tão ferinos quanto citáveis que entregam com extrema naturalidade as características das personagens. Há momentos tão hilários capazes de alfinetar em culpa aqueles que torcem o nariz para filmes clássicos por acharem-nos chatos. A jovem Weidler rouba todas as cenas, quando presente, com um tino de comédia invejável [a cena em que ela se apresenta aos jornalistas é de chorar de rir], e a química entre os três protagonistas é de igual graça. Tudo conectado pela magistral direção de George Cuckor, autor das melhores adaptações teatro-cinema, como Nascida Ontem [1950] e Minha Bela Dama [1964].
Mais: a direção de arte é perfeita e o figurino [especialmente o de Tracy] é fantástico.

- Quart4B***
[Quart4B, 2005 - BRA. De: Marcelo Galvão. Com: pais neuróticos e um tijolo de maconha prensada]

O que fazer quando maconha é encontrada na sala de aula de seu filho? Esse é o argumento da comédia de Marcelo Galvão que retrata uma reunião de pais e mestres após o ocorrido. Porém, esqueça defesas ou condenações, o inteligente roteiro de Galvão se concentra nas reações e motivações humanas diante do tabu.
Após votação e decisão de fumarem um baseado como experimento, as personagens transcendem a discussão da legalização ou não da droga e atingem o nível do comportamento humano em geral.
Embora a edição pareça às vezes confusa, ela de maneira interessante mostra a "viagem" das personagens sob o efeito da droga, o que acrescenta ao ponto de vista gêneroso e quase imparcial do diretor. Numa dessas viagens, uma personagem imagina que tudo não se passa de um filme, tornando a experiência de assistir "Quart4B" ainda mais gostosa e, sobretudo, engraçada.

- Matador***
[Matador, 1986 - ESP. De: Pedro Almodóvar. Com: Antonio Banderas, Assumpta Serna, Nacho Martínez, Eva Cobo, Chus Lampreave, Carmen Maura]

Todos os elementos de Almodóvar estão presentes, mesmo que este seja um dos seus primeiros filmes: as imagens chocantes, as cores vibrantes associadas a enquandramentos quase obscenos, sexo, amor e morte. O interessante de ver a trajetória de diretores ainda em atividade é perceber as temáticas e histórias que se repetem ao longo de sua carreira.
Em Matador, Antonio Banderas é Ángel, um estudante de toureiro tímido e sexualmente reprimido devido à criação dada pela mãe - que é do Opus Dei. Após tentar estuprar Eva [Eva Cobo], a namorada de seu mestre [Nacho Matínez], Ángel decide assumir uma série de assassinatos aos quais não cometeu.
Em espanhol, "matador" é um dos sinônimos para toureiro e elementos do trabalho do matador são cruciais no desenvolvimento da trama. Apesar de manter a áurea de thriller, o filme é confeitado com o delicioso humor negro, inerente à maioria das obras do diretor, ainda que se perceba um escurecimento no tom. Assumpta Serna é a epitome da sensualidade como a advogada de defesa de Ángel; sua primeira cena, por exemplo, é de tirar o fôlego! E Pedro explora isso até quando ela passa batom vermelho.
Por outro lado, Eva Cobo é etereamente linda, mesmo quando nua e vestida para ser sexy, sua beleza é filmada pelo diretor de forma quase virginal. Chus Lampreave e Carmen Maura também fazem participações cômicas memoráveis como a mãe de Eva e a psiquiatra de Ángel, respectivamente.
O filme, porém, ainda está longe da perfeição dos mais recentes do diretor. O roteiro contém buracos aqui e acolá: nunca sabemos as reais motivações de Ángel, por exemplo, e algumas personagens, como a mãe de Ángel, são deixadas pelo meio da trama. Ainda assim, Matador é um filme ótimo e essencial para amantes de Pedro Almodóvar.
Três curiosidades: Pedro faz uma participação como ator, representando o estilista de um desfile feito por Eva, numa cena hilária onde ele indica alguns dos temas centrais do filme. Outra coisa é que a temática das touradas será retomada por Almodóvar no sensacional drama de 2002, Fale com Ela - mas, como acima mencionado, o clima e o tom são completamente diferentes e, digamos, melhor trabalhados. E finalmente, para quem gosta de Madonna e conhece o clipe de Take A Bow, é interessante notar como algumas cenas do filme pareceram inspirá-la, como uma cena em que o mestre de Ángel beija a amada pela televisão.