8 de julho de 2010

"Can You Feel Me In Stereo?"

Diz-se que opinião de fã é parcial e não merece muito respaldo. Contudo, em alguns casos, uma boa e bem fundamentada opinião de fã é muito melhor que a de um crítico supostamente imparcial. Por que penso assim? Jose uma vez me disse que o grande cineasta da Nouvelle Vague francesa, François Truffaut, também era crítico de cinema e pensava que um bom crítico era aquele que procurava ressaltar as qualidades, ao invés de apenas execrar todo e qualquer filme. Hoje em dia o que mais se vê por aí é jornalista falando mal por falar, e como o pensamento do mestre francês se enraizou em mim, que sou aspirante a crítico, ele tem sido o que busco em todas as resenhas, desde as que leio por aí e às que me proponho a escrever.

Agora, é fato que eu nunca desgostaria de algo vindo de Kylie Minogue, [lançado oficialmente essa semana, mas vazado na web há pelo menos 15 dias] seu novo álbum, Aphrodite [2010, Parlophone], veio para mim como a brisa do mar na primeira manhã do ano - suave e refrescante, mas intensa se considerada sua origem. Contudo, achei melhor esperar para que algumas coisas se definissem melhor em minha cabeça, além da excitação de fã.

[Aphrodite declara o retorno do sutiã de cone...]

Tendo a deusa grega do amor e do sexo como matrona, "Aphrodite" fala principalmente de amar, sendo essa a linha temática essencial do álbum. Contudo, há algo de excitante em relação às letras e desenvolvimento das faixas: é como se cada canção representasse um aspecto e pensamento dessa personagem. No refrão da primeira faixa, All The Lovers [composta e produzida pelos lindos Kish Mauve - responsáveis por 2 Hearts], as vozes de Kylie e Mima Stilwell se combinam como sereias hipnotizantes, mas há uma serenidade que reforça exatamente o que elas cantam: all the lovers, that have gone before, they don't compare to you. Tais momentos apaixonados e brevemente dramáticos acontecem na maioria da faixas, como Put Your Hands Up (If You Feel Love), Closer e Cupid Boy [aquela música fantástica que tem tudo para se tornar uma jóia esquecida, como Your Love do álbum Fever (2001)].

Porém, todo o sangue, suor e romance não vem carregado por batidas obscuras como na obra-prima de 1997 da cantora, Impossible Princess [Deconstruction]. Aphrodite é um álbum Pop, voltado para o Dance, mas Pop. E mesmo que haja menos ousadia experimental, como Sensitized e Speakerphone [ambas do X], "Aphrodite" é um trabalho delicioso capaz de te levantar da cadeira - se você estiver disposto. A faixa título tem uma "bateria-de-quartel" genial e letra simples, mas definidora do clima do álbum: "I'm fierce and I'm feeling mighty, I'm a golden girl I'm an Aphrodite!" Ela diz que não poderíamos resistí-la e é o que acontece quando temos faixas como Get Outta My Way, Too Much [em parceria com o amigo Jake Shears, do Scissor Sisters, e Calvin Harris], Illusion e Can't Beat That Feeling. É verdade que, como disseram alguns críticos, nenhuma dessas faixas sejam grandes inovações de estilo [nem do gênero, nem de Kylie], mas esses mesmos caras foram os que esculhambaram "X" por sua falta de coesão e experimentalismo. Então... e daí o que eles dizem?

"Aphrodite" é bem diferente de seu antecessor, X [2007, Parlophone], não apenas no som, mas numa coisa muito cobrada em álbuns pop hoje em dia: coesão. Todas as faixas em X tinham grande potencial e eram excitantes por si só, mas a maioria não funcionava muito bem em conjunto. Em Aphrodite, o maravilhoso Stuart Price dá ao álbum o ligamento proveniente de uma excelente produção executiva; as faixas têm produção variada, mas [praticamente] todas passam pela mão e finalização de Price, resultando no som refinado e bem estruturado de "Aphrodite".

Criticamente, penso que o problema inicial deste álbum é que, ao contrário dos esforços anteriores de Minogue, não há a faixa-clímax; não há nenhuma Can't Get You Out Of My Head, Slow ou In My Arms aqui. Porém, a cada audição a coerência e coesão do álbum se destacam, sendo natural que ao invés de uma faixa favorita, você se apaixone por todas as faixas por igual. Mas como fã, apenas desejo que Minogue ponha todas as faixas no setlist da turnê e venha para o Brasil mais uma vez.

[...desde que venha com sapatos fantásticos. SEMPRE!]

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