6 de agosto de 2010

Ideologia!... Nemli

Isso não é um texto diretamente argumentativo, nem mesmo apenas um desabafo.


Essa semana no Portal FFW saiu um post rasga-seda do Andre Rodrigues sobre um editorial da Vogue Italia, fotografado pelo genial Meisel, que usa como temática o catastrófico vazamento de óleo no Golfo do México, provocado pela BP. Dentre outras coisas, Andre louva a iniciativa de Franca Sozzani, editora da revista, em publicar tal ensaio, que transcende a mostra de roupa e "prioriza o conteúdo (e não a forma)".

Mas eis que, de repente, no dia 6 de agosto de 2010, Lucas viu um editorial de moda esteticamente fantástico e não sentiu nada. Mentira! As fotos são sim impactantes e lindas, mas para mim foram apenas isso. Talvez seja meu humor de ressaca, mas o tal statement político, cultural e humano que Rodrigues insinua estar contido no editorial, através de adjetivos super descolados para descrever o trabalho de Sozzani, Meisel e a modelo Kirsten McNeamy, se perdeu justamente na profusão adjetiva do texto e, principalmente, nas fotos per se.

A verdade é que dentro do meu humor de sexta de manhã, algo ceticista bateu ao ver esse ensaio que, ao contrário do que sugere Rodrigues, não me impactou em nada no tocante ao desastre ecológico e suas implicações humanas e naturais. O oportunismo de falar e opinar sobre tudo, muitas vezes numa óptica politicamente correta, às vezes me irrita. Me irrita porque essa efemeridade da moda engole, muitas vezes de forma ditatorial, discussões bem mais profundas e complicadas e as mastiga jornalisticamente em editoriais que, apesar das maravilhosas intensões, serão ofuscadas pelo lindo e luxuoso acessório da última coleção da marca x, y ou z.

Talvez eu sacasse melhor a pseudo profundidade política do trabalho se, ao invés de Vogue Italia, o photoshoot [exatamente do jeito que ele é] fosse lançado nalguma galeria de arte, ou numa publicação que incitasse uma discussão que não fosse ser completamente esquecida na próxima edição, apenas porque agora ela é so last season. Talvez, se ele fosse parte de uma série de outras publicações de moda falando sobre o tema com novos insights, mas nenhuma outra revista de moda vai falar sobre isso, apenas porque a Vogue Italia já falou! O que faz com que o trabalho e os elogios subjacentes, ao invés de alimentar uma discussão, alimenta apenas o ego da revista.

Talvez eu esteja sendo muito utópico ao exigir um pouco mais consistência dessa industria. Porque afinal, não é por isso que a Moda é tão celebrada e até mesmo louvada hoje em dia, por massificar e tornar pública a arte que estaria trancafiada para poucos elitistas privilegiados numa galeria? Contudo, penso que o trabalho de Meisel e McNeamy, e até mesmo a iniciativa de Sozzani, merecem mais do que serem esquecidos mês que vem com o próximo grande fashion empty statement.

Daí, talvez [mais uma vez], a beleza de tudo isso esteja mesmo nessa efemeridade de discussões, tão rápida quanto o mundo moderno. Ainda amo a Vogue Italia, Meisel, Andre Rodrigues mas isso não me impede de exercer meu senso crítico, mesmo que nele resida o eterno dilema da estética versus substância que há na cabeça de todo admirador consciente da moda.


Nota-mental: preciso muito ler profundamente Gilles Lipotvesky!

3 comentários:

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  2. Lendo a matéria e os comentários no site, me ocorre um "mea culpa" da indústtria de moda, filha bem nascida do capitalismo, às catástrofes e consequências do consumo desenfreado das últimas décadas.
    Para além disso, vejo não uma consciência real, mas um proveito lucrativo ante a "tendência" de ser "ambientalmente correto". Ou seja, isso vende e agora é fashion.
    Acho tbm q não foi à toa a escolha de 1 modelo da época aurea do consumo e não uma new face. Ela representa esteticamente a própria transformação e degradação do belo, mas q metamorfoseado no destruído torna-se potencialmente vendável, por ser real, rompendo coma lógica do imaginário.
    É a sedução pelo bizarro, que, por isso, torna-se banalizado.
    Só posso temer e tremer... por enqto.

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  3. Concordo plenamente com este post. Interessante que podemos ver fotos fashion da situacao mas o BP proibe monstrar fotos da realidade. Um ato realmente bondoso, chocante e social seria os modelos correndo da seguranca em vestidos lindos tentando monstrar o que ta acontecendo na beira do mar.

    Pelo menos ainda tem o huffingtonpost

    http://www.huffingtonpost.com/jerry-cope/the-crime-of-the-century_b_662971.html

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