Depois de escrever a minha review, me pus a ler o que outros críticos disseram sobre Aphrodite e a recepção geral do álbum foi positiva. A minha favorita é de Tim Sendra, do portal Allmusic, na qual ele louva as qualidades de Kylie Minogue como intérprete. Ele diz:"Obviamente, ela nunca será confundida com uma diva de longas oitavas ou uma potência vocal, mas sua voz de garota-do-lado meio anasalada serve suas necessidades perfeitamente. Ela eleva-se pelas canções com a mistura exata de emoção e moderação, adicionando algum sarcasmo quando necessário (na descomunal faixa-título ["Aphrodite"] ou “Get Outta My Way”) ou uma calma melancolia quando tal humor se instala (“Illusion”). Esta habilidade de adaptar sua performance à canção é uma qualidade rara no mundo pop no começo dos anos 2010."¹
E ele está certíssimo! Diria que no mundo da música em geral, o minimalismo emocional na interpretação das cantoras atingiu ao tédio generalizado. Ótimas cantoras brasileiras, como Céu e Roberta Sá, ainda têm muito a aprender para chegarem ao nível de performance de uma Marisa Monte ou, sejamos exigentes, Maria Bethânia. Sem contar as malas com muito hype, como Maria Gadu, e a leva de lésbicas masculinas à lá Ana "Insuportável" Carolina.
Se formos para o mundo do Pop internacional a coisa fica ainda mais delicada.
O problema não são mais as Britney Spears e Ke$has, viciadas em Auto-tune para criarem o efeito que seu desempenho é incapaz de produzir na canção. A Ke$ha chega a ser nojenta, quando nenhum single lançado por ela até hoje contém sua voz sem estar robotizada pelo processador de áudio.
O problemão, ao meu ver, são justamente aquelas com potencial vocal legal mas são um grande tédio de interpretação. Todas essas biscatonas do R&B ou Hip Hop americanos sofrem disso. Nicole Sherzinglogoogonger das Pussycat Dolls, por exemplo, Ciara, e porque não nomes consagrados como Christina Aguilera, Mariah Carey e Whitney Huston. Todas elas botaram em suas cabeças-ocas que passar emoção é berrar que nem uma vaca e prolongar uma nota por quinhetas horas. As beeshas drama-queens aspirantes a travesti adoram! Eu, honestamente, bocejo.
Nem toda grande cantora Pop, capaz de alcançar e sustentar mega-notas, é um tédio de personalidade. Reparem Björk e Lady Gaga [duh!], como os gritos fazem parte de uma performance que transcende caretas whitneyescas e mãos nervosas aguilero-mariahescas; qualquer ser humano com o mínimo de sensibilidade consegue distinguir que os gritos de Gaga em Bad Romance (por exemplo) não são apenas para nos impressionar com sua chatisse vocal, mas fazem parte da monstruosidade do eu-lírico da canção. Nota: Beyoncé chegou muito bem a esse nível em I Am... Sasha Fierce, no qual ela grita menos e interpreta mais.Mas o interessante para mim é que minhas cantoras Pop favoritas são justamente as de vozes anasaladas meio limitadas, como Kylie, Madonna e Cyndi Lauper, mas que são gênios na performance, por saberem perfeita e exatamente o que fazer com seus instrumentos de trabalho. Para cada momento em que se enjoa de Girls Just Wanna Have Fun, há a beleza melancólica de uma True Colors, e isso você sente diretamente da interpretação dada por Lauper à canção. E você pode até odiar os gritinhos de Like A Virgin, mas deve-se admitir que mesmo que Madonna tenha absorvido isso diretamente da versão demo [gravada por um homem], aqueles HEYs fazem parte da Cultura Pop da forma que Madge os concebeu.
E para quem não conhece o extenso catálogo de Kylie Minogue recomendo a sensualidade de Slow, a ira contida no álbum Impossible Princess [1997], com músicas amargas como Too Far e Through The Years, e o romantismo-dramático de canções como Chocolate, Put Yourself In My Place e Dangerous Game.
Numa indústria em que nem sempre a estrela é a produtora [compositora] principal do que é comercializado, o diferencial artístico se encontra justamente na capacidade em que ela tem em dirigir seus contratados [compositores, músicos, produtores, fotógrafos etc] para exprimirem sua personalidade no produto final, seja criando ou seguindo tendências. É como Sendra acrescenta sobre Minogue e seu último álbum ao fim de seu texto: "[A habilidade de adaptar sua performance à canção] pode levar as pessoas a subestimarem o talento de Kylie, mas na verdade, Aphrodite é o trabalho de alguém que conhece exatamente quais são suas habilidades e quem contratar para ajudá-la a exibi-las com perfeição."¹
---------------------------------------
Referências:
¹ Sendra, Tim. "((( Aphrodite > Review )))". allmusic.com.



Eu gosto das grandes vozes. Eu acho que ambas têm sua qualidade: as mulheres que fazem grandes notas fazem grandes canções, aqueles que ficam nas trilhas sonoras de filmes da sua vida; as mulheres que têm atitude mas têm pouca voz fazem a trilha da sua vida e dão mais personalidade à performance.
ResponderExcluirEu não bocejo com nenhuma delas.
;)
é verdade vivs! os exemplos que usei foram gerais, mesmo admitindo gostar dessas mesmas cantoras em níveis e aspectos diferentes.
ResponderExcluir