26 de junho de 2010

Saint John of Cinema - Parte 1

[Classificações de * a ***]

O que fazer quando se tem praticamente uma semana de feriado, não gosta de forró e não compartilha do fetiche geral por explosivos? Video-locadora ativar! Quando fui à Canal 3, comentei com Lídia [uma das adoráveis atendentes] que estava nos extremos do amor e o sangue, o que resultou em 9 locações bem distintas.

- Garota Diabólica***
[Jennifer's Body, 2009 - EUA. De: Karyn Kusama; com: "a-gostosa-devoradora-de-homens" e "a-nerd-gostosa-que-faz-sexo"]

Confesso que comecei já esperando não gostar. Quem em 2008 não babou por Juno e o roteiro ultra-geek de Diablo Cody cheio de referências à Cultura Pop [indie!]? Até a Academia se derreteu e premiou a ex-stripper-agora-roteirista por seu primeiro texto para o cinema. Tudo bem, eu adorei Juno! Mas com o tempo o hype me cansou e por isso peguei "Garota Diabólica" com más intenções.
Me lasquei quando me deparei com uma adorável comédia-terror teen que não inova muito no gênero, mas é um bom exemplar de quanto um bom texto pode te conquistar.
Jennifer [Megan Fox] e Needy [Amanda Seyfried] são amigas de infância, mas na adolescência, apesar de continuarem BFFs [Best Friends Forever], são extremos opostos: a primeira é cheerleader gostosona sex-goddess, a segunda nerd. Viu, nada de inovador! Porém, tudo se complica quando Jennifer, possuída por um demônio, passa a digamos... canibalizar os garotos que ela pega.
O terror é praticamente nulo, porém o roteiro de Cody é obviamente carismático e, com classe, flerta com as discussões de gênero e o comportamento adolescente feminino [garotas maneaters vs. virgens etc]. Seyfried é um encanto e Megan Fox... bem, é gostosa!

- Elsa & Fred - Um Amor de Paixão**1/2
[Elsa y Fred, 2006 - ARG/ESP. De: Marco Carnevale. Com: um viúvo com uma filha neurótica e uma velhinha safada e maluquete]**1/2

Comédia romântica sobre dois vizinhos velhinhos que se apaixonam. Recentemente viúvo, Fred [Manual Alexandre] é meio que obrigado pela filha neurótica [Blanca Portillo] a se mudar para um apartamento, onde tem como vizinha Elsa [China Zorrilla]. Já Elsa tem dois filhos, o mais novo é um artista medíocre bem vagal e o mais velho é o rico control-freak, que a sustenta, e de quem ela desvia dinheiro para ajudar o mais novo. Além disso, Elsa é mentirosa compulsiva, vive se metendo em confusão e, ao se apaixonar por Fred, insere-no em seu "mundo de aventuras sexagenárias".
Apesar de o roteiro de Carnevale, Marcela Guerty e Lily Ann Martin ser bem interessante, com seu humor leve e visão adorável sobre o amor na terceira-idade, é a direção do primeiro que deixa desejar quando o filme acaba dando muito menos do que promete e é capaz. Contudo, vale a pena assistir porque a maravilhosa Zorrilla é hilária e Portillo [a Agustina de Volver] rouba todas as cenas quando presente.

- Cloverfield, O Monstro***
[Cloverfield, 2008 - EUA. De: Matt Reeves. Com: um monstro fodão e de origem desconhecida, um monte de americano prontos pra serem devorados]

AMO cine catástrofe! Aviões, ônibus desenfreados, tubarões, cobras, ETs misantropos e, claro, monstros gigantescos que adora comer metrópoles!
Sim, Cloverfield é mais uma versão de Godzilla! Sim, Nova York é a Boca do Inferno, tudo de ruim acontece lá. E sim, o exército americano salva todo... opa, calma lá esse é diferente. Produzido pelo novo queridinho dos pirofágicos de Hollywood, J.J. Abrams, esse filme pega A Bruxa de Blair e faz uma superprodução que, apesar de ter tudo para ser uma porcaria, se torna uma inteligente metáfora de humor negro para o terrorismo.
Só há um problema grave nesse filme: é uma pura experiência de cinema, ou seja, você vai desejar um mega home-theatre e telona.

- Um Casamento Perfeito****
[Le Beau Mariage, 1982 - FRA. De: Eric Rohmer. Com: vários franceses problemáticos com maravilhoso senso de estilo]

A cada filme Eric Rohmer se torna um de meus diretores favoritos [com certeza haverá mais posts sobre ele].
Nesta adorável comédia, da série "Comédias e Provérbios", acompanhamos a história de Sabine [a maravilhosamente simples Béatrice Romand], jovem com uma queda por homens casados. Ela larga o amante pintor durante uma noite frustrante [ele interrompe o sexo para atender telefonema do filho] e decide que vai se casar. Para isso conta com a ajuda da amiga Clarisse [a linda!linda!linda! Ariele Dombasle] que lhe apresenta seu primo Edmond [André Dussollier], um advogado charmoso, fino, porém distante.
Como em todos os filmes de Rohmer, os diálogos de suas intrigantes personagens são as grandes estrelas. Ademais, a simplicidade dos roteiros de Rohmer é uma delícia, sempre contando histórias cotidianas e sem muito estardalhaço, mas que nos tocam justamente por parecerem muito próximas de nossa realidade.

- Old Boy****
[Old Boy, 2003 - Coréia do Sul. De: Chan-wook Park. Com: você simplesmente terá que ver!]

Um dos filmes mais instigantes que vi em ANOS, Old Boy é a típica história de vingança in Asian-style, mas com um roteiro, direção e edição de tirarem o fôlego! Sei que soa preguiçoso dizer isso, mas este é o tipo de filme que você precisa ver e sentir, porque adjetivos soam ineptos para descrevê-lo.
Basicamente é assim: Dae-su Oh [Min-sik Choi] é sequestrado e passa 15 anos num cativeiro com uma televisão como contato para o mundo. Após ser hipnotizado, Dae-su Oh se descobre livre e parte para descobrir seu sequestrador e, obviamente matá-lo.
Com posicionamentos de câmera quase claustrofóbicos, o diretor Chan-wook Park injeta poesia e beleza num filme que poderia ser como qualquer outro drama de ação. Porém, há algo de fascinante na sociedade sul-coreana, e o fantasioso nicho formado pelas personagens de Park, que você inevitavelmente é sugado pelo mistério do filme de forma surpreendente.
Antenção: é a segunda parte da Trilogia da Vingança, porém os filmes não são sequenciados, se fazem trilogia apenas pela temática: "vingança, violência e salvação".

- XXY****
[XXY, 2007 - ARG/FRA/ESP. De: Lucía Puenzo. Com: Martín Piroyansky e Inés Efron]

Se a história de hermafrodita lutando para saber "o que é" e "o que quer ser" soa bem "Hilary Swank e seu injusto Oscar em Meninos Não Choram", XXY é o tipo de filme que se torna muito mais de tudo que você esperou. Esqueça sua mente criada por dramalhões americanos, produzidos de forma maniqueísta para te fazer chorar e se emocionar com um drama tão fácil quanto superficial.
No filme de Lucía Puenzo acompanhamos Alex, uma garota de 15 anos com muito mais problemas que o início da bombação hormonal da adolescência; por ser hermafrodita, os hormônios de Alex e seus efeitos são um grande mistério. E é assim que se comportam todas as personagens, com um "elefante branco" de presença forte e angustiante. Os atores são boa parte do sucesso do filme, especialmente os adolescentes: a Alex de Inés Efron é fantástica e carismática, enquanto Martín Piroyansky dá a seu Álvaro uma confusão melancólica de partir o coração, capaz de te cativar, mas mantendo a distância que ele mesmo impõe.
Se as persoangens de Puenzo se encontram em constante confusão interna, ela, porém, nunca as deixa soltas ao relento da forma sádica: o filme nunca é infiel à natureza de sua história e personagens; ao invés de te chocar [como esperamos em Hollywood], os elementos se adicionam de maneira delicada, apesar de corajosa.
XXY tem como elemento surpresa justamente os sentimentos trazidos à tona e [re]utilizados para perfurar a tensão. Numa determinada cena, Alex boia no oceano, desafiando tal tensão - mesmo quando se utiliza dela. É assim que o filme de Puenzo se comporta diante de nós: como a tensão superficial da água, é preciso rompê-la mas não exige nenhuma força monumental, basta vir com delicadeza.
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Bem, foram esses até então - ainda há mais três pra assistir: o brasileiro Quart4B; O Matador, de Almodóvar; e a clássica comédia-romântica de George Cuckor Núpcias de Escândalo, com o delicioso Cary Grant e a divina Katherine Hepburn.

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