24 de junho de 2010

DROPS 56

[DROPS são colunas esporádicas que moram no meu orkut e que agora terão um apartamento-extra pra quando quiserem um momento de solitude: aqui.]

como um escritor que [no momento] rejeita as palavras, poucas delas realmente me movem ultimamente. “dinheiro” é um exemplo, afinal ninguém normal nessa sociedade se mantém intacto sob esse termo. “tesão” é outra, por motivos óbvios, o que me leva à que realmente tem me fascinado: “paixão”.

andréia é de montes claros e em conquista se instalou no ramo do vestuário masculino; em sua loja, ela vende roupas que em sua maioria não me chamam a atenção, mas tem itens formidáveis e super efetivos no despertar do meu desejo consumista. contudo, desde que a conheci, a coisa por ela dita que mais me marcou foi “paixão”. em contexto, ela declarou que o combustível essencial em seu negócio é fazê-lo com paixão. isso me empacou por alguns instantes da abundante conversa que tínhamos eu, ela e meu pai. onde está minha paixão? ou melhor, onde estou depositando-a?

é tão difícil responder certas perguntas quando seu vocabulário já não te satisfaz como antes; como no espetáculo “nu de mim mesmo” disseram: deveria haver uma palavra para designar aquela pessoa que está feliz e nervosa ao mesmo tempo. mas aí me pergunto, estou nervoso? ora, certamente meu humor não anda muito fácil; reflexo das mudanças acontecendo em minha mente, é como se algo forte ainda tentasse me prender “ao que tem sido”; tal estado é tão ridículo, é a manutenção do que já é gasto e pede renovação.

ssa semana me deparei com uma nova característica minha. talvez eu seja uma pessoa inclinada à seriedade. uma pirraça/brincadeira me irritou profundamente, muito mais do que achasse dever, pois sempre fui afeito a certas pegadinhas. mas não, essa me magoou e ao ser inquirido por que, não soube responder. e agora penso, talvez seja porque não faço mais pegadinhas e não vejo mais a graça nelas. talvez esteja me transformando num velho sem senso de humor... ou simplesmente, talvez, meu humor esteja mudando. que mal há nisso?

há uma parte de mim ciente de todas essas revoluções internas e, algumas vezes, reage na tentativa de impor paradigmas; costumo chamar essa parte de ego e é justamente a que dá faniquito quando algo fora da norma acontece e que, também, se sente culpada pela histeria. estou cansado dessa parte. há outra que aceita melhor as coisas, abraça as mudanças. ela, por exemplo, é tranqüila quanto à sensação atual de me divertir mais em casa e com menos pessoas ao redor. é ela, também, que tem me encorajado a apreciar mais os momentos de silêncio.

soa contraditório alguém com aspirações literárias menosprezar tanto a fala... mas não é isso. esse meu lado silencioso tem me feito notar que as palavras são até mais vibrantes e coloridas quando você gasta menos tempo falando. como escreveu madonna: “suas ações falam mais que palavras, que são apenas palavras, a não ser que sejam verdadeiras.”

como sabe-las verdadeiras? nas ações, no movimento que surte efeito direto nas sensações. acabei de assistir o fantástico “asas do desejo”, de win wenders. para quem não sabe, foi o filme que inspirou a melosidade hollywoodiana chamada “cidade dos anjos”. nele, os anjos ouvem principalmente os pensamentos das pessoas, portanto, 80% do filme é mudo! agora tente imaginar a dificuldade dos atores em ter um roteiro cheio de falas que só serão ditas depois que o diretor diz “corta”! antes de tal momento, tudo dito pela personagem é feito apenas com ação.

isso é profundamente tocante. isso foi terrivelmente inspirador. porque falar às vezes é como muita luz que cega! já esteve num ambiente em que todos falam demais, ao mesmo tempo, e você simplesmente não ouve mais nada? pois então, “i’ve grown tired of your words.”

por enquanto c’est ça.
x.o.x.o.

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